|

sábado, março 18, 2006

Casa Pia

Hoje, no Público:

Testemunha acusa dois políticos de abusos pedófilos
Isabel Braga

Advogado da Casa Pia defende nova investigação para "tranquilidade da opinião pública" e "benefício dos visados"

A avaliação psiquiátrica de Carlos Cruz, pedida pelo tribunal e ontem junta aos autos, não é conclusiva. Afirmando que "não é possível definir uma personalidade pedófila", os peritos afirmam: "Não se encontram indicadores que probabilisticamente correlacionem a personalidade do examinado com a prática dos factos que lhe são imputados." Referem que "os traços de carácter dominantes (...) são os obsessivos, os narcísicos e os paranóides", mas sem configurarem "perturbações da personalidade". Mas, reflectem, "o auto-relato da sua história é tão perfeito e ideal que pode parecer suspeito", tendo "uma preocupação vincada em transmitir boa imagem de si próprio".

O julgamento do processo Casa Pia voltou ontem a ser agitado por acusações de abusos sexuais contra importantes personalidades políticas, desta vez por parte do jovem de 24 anos que presta declarações como testemunha e já não como assistente e vítima no proceso, pelo facto de ser maior de idade, relataram advogados presentes na sala do tribunal, fechada à comunicação social.

Este jovem, interno na Casa Pia desde os sete anos, disse ter sido logo nessa idade violado numa estação de serviço por Carlos Silvino, antigo motorista na Casa Pia e principal arguido no processo, que, segundo relatou a testemunha, o levou, quando ele tinha oito anos, a casa de Jorge Ritto, onde foi abusado por este embaixador e por dois políticos conhecidos, afirmaram as mesmas fontes.

O jovem disse que só muitos anos depois, quando trabalhava num hotel em Sintra e viu um desses políticos na televisão, soube quem era. Quanto ao outro, soube quem era por ter perguntado, quando o viu num café, numa localidade no concelho de Sintra, segundo relatos dos advogados presentes no julgamento.

Outra casa que a testemunha referiu como palco de abusos de que foi vítima foi a chamada Casa dos Erres, no Restelo (segundo o processo, o número 4 da Rua Rodrigo Rebelo), que disse ter frequentado durante três anos, a uma média de uma vez por semana, e onde, para entrarem, os menores tinham que se identificar com nomes começados por "R". Aí decorriam orgias sexuais e havia heroína e cocaína à disposição, contou o jovem, que disse ter visto, nessa casa, Paulo Pedroso com Carlos Cruz a "snifar cocaína". E que, na mesma casa, fora abusado pelo apresentador televisivo e por um antigo jogador do Benfica, segundo relatos dos advogados.

Testemunha
em catálogos pedófilos

O jovem contou ainda que ia aos fins-de-semana à moradia da Casa Pia em Colares, para participar em filmes pedófilos, e que, nessa casa, estavam o ex-provedor da instituição Luís Rebelo e o ex-provedor adjunto Manuel Abrantes, arguido no processo, que ele também identifica como abusadores. Esta testemunha surge, aliás, em catálogos pedófilos, juntos ao processo, onde aparece fotografado na Casa de Colares, quando tinha oito ou nove anos. E relatou ao tribunal que continuou a ser abusado até aos 16 anos, nos locais que indicou e ainda numa casa em Cascais onde "só havia estrangeiros".

Ontem, segundo relatos do julgamento, o jovem foi confrontado pelo procurador do Ministério Público, João Aibéo, com uma mensagem que enviou ao inspector da Polícia Judiciária Dias André e ao psiquiatra da Casa Pia, Álvaro de Carvalho, quando da libertação de Cruz e Ritto. Na mensagem, dizia-se revoltado pelo facto de as pessoas que abusaram dele estarem "cá fora" e afirmava ainda que se queria "matar". João Aibéo perguntou-lhe se tinha algum interesse no processo, ao que ele respondeu: "Sim, quero que estes homens vão para a cadeia por aquilo que me fizeram."

À saída do julgamento, o advogado da Casa Pia, José António Barreiros, afirmou que, dadas as acusações da testemunha, "devem ser feitas novas investigações para aclarar as situações" descritas, para "tranquilidade da opinião pública e para benefício dos próprios visados".
Esta testemunha foi questionada pelo Ministério Público e pelo defensor de Cruz, Sá Fernandes, mas não terminou o seu depoimento, por estar com febre. O julgamento recomeça na segunda-feira, com nova testemunha, prevendo-se que o jovem que ontem depôs em tribunal volte a ser ouvido mais tarde.

Jovem acusou políticos importantes, ainda no activo, de terem abusado dele, em criança.
Próxima sessão
Segunda-feira, às 9h30

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Porque será que não deixamos de ser cínicos e moralistas de meia tigela e passamos a revelar publicamente este tipo de animalidades, com todos os nomes? porque será que estas pessoas, ao que parece identificadas, não são presas preventivamente e conduzidas em carrinha celular para averiguações e inquéritos, a exemplo do que acontece com o "comum dos portugueses"? perdoem-me os animais, aos quais não pretendo ofender.

segunda-feira, 17 abril, 2006  

Enviar um comentário

<< Home


Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com