Angola Portugal
Maria José Oliveira
Editorial anónimo critica cobertura jornalística da visita
de Sócrates a Angola
e fala em "fantasmas
do colonialismo"
Intitulado "As feridas da liberdade", o texto, não assinado, serviu de editorial à edição de ontem do diário angolano e foi colocado em linha pela agência de notícias na secção de Política. Apresentando-se como uma réplica ao "coro de insultos" e a "toda a espécie de mentiras" alegadamente desencadeados pela comunicação social portuguesa na cobertura da visita do primeiro-ministro José Sócrates a Angola (de 4 a 7 deste mês), o artigo destaca: "Nenhum jornalista angolano, nenhum comentador, nenhum líder de opinião lembrou à comitiva portuguesa que o direito ao emprego faz parte do elenco dos direitos humanos. Ninguém se lembrou de invectivar os governantes portugueses por terem permitido que crianças à guarda do Estado português tivessem sido abusadas sexualmente. Ninguém fez a lista dos corruptos que, segundo magistrados portugueses, crescem como cogumelos à sombra do aparelho de Estado e estão a exaurir a riqueza de Portugal." E questiona: "O que aconteceria em Portugal se o tivéssemos feito?"
Sócrates não comenta
O PÚBLICO contactou o gabinete de José Sócrates para tentar obter uma reacção a estas acusações, mas o assessor de imprensa do primeiro-ministro, David Damião, disse desconhecer o texto em causa. Apesar disso, adiantou a recusa de Sócrates em fazer qualquer comentário. Carneiro Jacinto, assessor do ministro dos Negócios Estrangeiros, remeteu esta matéria para o gabinete do primeiro-ministro, lembrando que o artigo foi publicado na sequência da visita de Sócrates a Angola.
O PÚBLICO tentou igualmente contactar o adido de imprensa da embaixada de Angola, Ramiro Barreira, mas tal não foi possível até à hora de fecho desta edição.
O texto começa por notar que a visita de Sócrates "foi um êxito", para depois atacar a cobertura jornalística portuguesa, que, pode ler-se, é tributária dos "fantasmas do colonialismo", do "racismo" e da "ignorância". Quanto aos "líderes de opinião" que têm desenvolvido uma "campanha caluniosa", lê-se, é somente nomeado José Manuel Fernandes, director do PÚBLICO, que "sem nunca ter posto os pés" em Angola "destila em forma de escrita canhestra opiniões fundadas na ignorância e na provocação".
Na passada sexta-feira, José Manuel Fernandes escreveu um editorial titulado "O outro lado de Angola", no qual criticava o facto de a visita de Sócrates não incluir na sua agenda o tema dos direitos humanos. Na mesma edição, foram publicados textos que davam conta de casos de violação dos direitos humanos, com destaque para situações verificadas no enclave de Cabinda.
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