Sobre Santana Lopes (PSL) e o seu governo nada de mau se pode dizer com novidade.
Não tenho dúvida sobre a justeza de muitas críticas que lhes têm sido feitas.
Mas há algo no momento político nacional que me causa desconforto.
É exactamente o lugar comum que constituem hoje as críticas ao governo e a PSL. Generalizou-se na imprensa a crítica fácil, a ridicularização, o comentário mordaz, nas TVs é com um sorriso de escárnio que nos vão mostrando algo que se pode entender como "mais umas macacadas destes palhaços". Ao mesmo tempo, a vitória do PS é antecipada por todos e por todas as sondagens, é uma vitória esmagadora em que todos acreditam. O governo e, em particular, PSL, são cadáveres adiados.
Face a este sentimento dominante não posso deixar de recordar como este governo entrou em funções. De uma promoção a Durão Barroso o presidente fez um folhetim: emposso, não emposso, dissolvo a AR, não dissolvo? Desde o princípio foi passado um atestado de menoridade a este governo. Contudo, havia na assembleia uma maioria, não limiana, que nunca deu sinais de crise. Nunca foi considerado argumento suficiente. O PR lá deixou passar o governo, mas sob condição. O forrobodó nasceu aqui, não houve "período de graça", nada. O presidente, no fundo, dissera tudo: eles não prestam, podem bater, é fartar vilanagem.
Barroso, que interrompeu uma legislatura pensada para 4 anos, por motivos de promoção inesperada (que talvez devesse orgulhar o país), havia planeado o óbvio: apertar o cinto nos dois primeiros anos (Barroso sucedeu a Guterres), alargar depois, na medida do possível, para que a parte mais difícil fosse vivida mais longe das eleições legislativas seguintes.
O acaso ditou que coubesse a PSL cumprir a metade mais agradável do termo governativo. O PR, e as esquerdas, não gostaram. Era preciso ouvir o povo, o governo era impopular, já não representava nada, etc e tal. A velha demagogia habitual (se se pudesse governar por sondagem instantânea... mas não pode, a lógica é a dos 4 anos).
O PR não deixou PSL cumprir o resto do mandato, dissolvendo uma assembleia onde a maioria não abriu brechas. Não demitiu o governo, o que poderia ser a decisão evidente, já que achava que ele não prestava, mas não pode dizer que a assembleia estava em crise. O PR andou mal, muito mal, para dar esta prenda aos seus amigos do PS.
Os sucesores de Guterres vão assim para o governo. De forma estranha, diga-se.
Sócrates foge aos debates com os líderes dos partidos do governo e não tem pejo em impor nas listas de Setúbal um deputado que se devia afastar. As eleições estão ganhas, vale tudo.
Depois choca-me a canalhice habitual dos que se juntam aos fortes para bater em quem está na mó de baixo. Os que já o faziam antes, aguçam a pena, agora usam adjectivos novos ("reles" ganhou novo significado no blog dos vencedores). Não foi só a arraia miúda que se juntou à chacina. Apareceram uns figurões com "trajectos dignos" a pontapear o moribundo e a tentar navegar a onda do sucesso anunciado.
Este consenso contra os partidos da coligação é, para mim, demasiado alargado. Quando muitos pensam da mesma maneira cheira-me que muitos deixaram de pensar...